domingo, 11 de agosto de 2013

UMA AULA DE FILOSOFIA?

A primeira coisa que gostaria de deixar bem claro é que este post não vai tratar de uma fórmula mágica de como trabalhar análise de textos com alunos do ensino médio. A segunda coisa é que a afirmação de que "devemos pensar um outro eu que não eu", é uma afirmação que não pertence ao campo filosófico, e sim, faz parte de um curso de autoajuda que talvez não seja relevante pra qualquer área do ensino. Se você realmente acha que é possível fazer isso, na boa, pense melhor! 

A maioria dos educadores que trabalha com filosofia pensa em sistematizar o ensino de modo que o aluno consiga entender aquilo que é trabalhado como sendo um processo unilateral. Isso quer dizer que se o sujeito aprende algo, ele deve aprender mediante um método eficaz que proporcione o conforto de certo entendimento, sem se analisar a proporção que certas afirmações podem alcançar quando que apreendidas pelo aluno de certa forma. O ensino de filosofia não é unilateral, nunca foi, nunca será (jamé). Se eu penso que os meus alunos são sujeitos pensantes, que possuem linhas de raciocínio distintas, que possuem certos graus de dificuldades de compreensão das coisas, então devo pensar uma aula voltada a todos esses sujeitos agentes em formação. Portanto, não posso pensar de uma forma puramente esquematizada sem me dar ao trabalho de analisar essas questões. Com isso não quero dizer que o ensino de filosofia deva ser relativo e sem qualquer organização ou ordem predisposta, ou que a filosofia compreende ideias distintas e que devemos respeitá-las porque estamos tratando de opiniões que retratam o modo de pensar das pessoas. Acredito sinceramente que isso é uma grande bobagem! Tbm não quero dizer com isso que devemos desrespeitar os outros. Estou dizendo que as opiniões, mesmo que respeitadas devem ser discutidas e colocadas em pauta de modo satisfatório, onde os argumentos que fundam as nossas opiniões sejam apresentados de modo que suscite uma discussão saudável.


Esse é um grande problema e é isso que quero deixar um pouco mais claro ao decorrer deste post.

A primeira coisa que devemos ter em mente, como salientado na introdução, é um ensino voltado a análise da argumentos em um primeiro momento. Isto quer dizer que se o sujeito entende que o argumento que defende é coerente, é porque entende que a a conclusão ao qual chega, segue-se de premissas que a sustenta: se há algum problema estrutural na premissa que adota, ou que a conclusão não se segue das premissas, é preciso fazer com que o sujeito compreenda o problema em questão e busque de modo argumentado a melhor solução possível para o problema. O que não quer dizer que seja a solução ideal. Num segundo momento é preciso trabalhar a redação de textos filosóficos e mostrar o como se faz isso. É claro que não estou tratando de um assunto fácil, ou que essa seja uma questão simples, e que não necessita trabalho árduo... muito antes pelo contrário: quero deixar claro que essas atividades envolvem muito esforço e força de vontade por parte do educador, o que muitas vezes não notamos, porque estamos acostumados com coisas simples que nos sejam confortáveis, ou ainda não temos disponibilidade de tempo para fazer um bom trabalho, tendo em vista que acabamos sendo responsabilizados por 15 turmas ou mais (ou bem mais) na escola que trabalhamos. Por esse motivo, e por outros motivos pedagógicos, se torna imprescindível o diálogo com a disciplina de português, por exemplo, pois se o sujeito entende que aquilo que faz é parte constituinte do aprender a se comunicar e a expor as suas ideias, podemos notar que o papel da filosofia vai muito além do ensino de coisas abstratas que nada têm a ver com a vida dos nossos educandos.

Por outro lado vemos constantemente o absurdo que muitos educadores fazem ao dizer que devemos pensar as pessoas como sendo um eu que não eu. É bonita tal afirmação, mas que cabe melhor em um livro de autoajuda. Existe um problema conceitual ao que se refere o 'eu': eu é eu, e não tu, ou eles. É difícil pensar um sujeito que não é um sujeito, do mesmo modo é difícil pensar um eu que não eu. Se eu começar a pensar os alunos como sendo um eu que não eu, eu caio num problema de cunho existencial, porque eu estou tratando eles como eu gostaria de ser tratada. Em outras palavras, se eu trato um sujeito com desdém poderia estar deixando implícito no ar que eu também gosto de ser tratada de igual modo, o que não é o caso (só se você for extremamente sádico, gosto não se discute... claro que se discute, mas não agora XD). A questão que deve ser melhor analisada, portanto, é como eu trato os meus alunos. Chegamos a uma complicação complexa XD. O que eu quero propor agora é que você pense na formação que teve na faculdade sobre psicologia e o entendimento do processo cognitivo do sujeito. Se você pensou e percebeu que não teve uma cadeira sequer que trate desse tema, parabéns, somos dois! Agora se você teve uma aula que deixou a desejar e que não tratou como devia do assunto, você está num grupo maior ainda e mais tenebroso: daqueles que acham que sabem sobre o processo cognitivo humano. Ou seja, quer dizer que você não pode opinar? Claro que pode, e é o que farei!

Já ouvi muitas vezes que “Eu odiaria ser tratada como sendo um sujeito não pensante, que não tenha as minhas próprias opiniões. Portanto devo tratar os meus alunos do mesmo modo que gostaria”. Novamente, você é educador, você não é o seu aluno, mas é certo que ninguém gostaria de ser tratado como sendo um sujeito acrítico, apolítico, acaralhaquatro. Mas isso não quer dizer que você deve se colocar no lugar do seu aluno. Se você se colocasse no lugar do seu aluno, você entenderia muito bem que a sua aula é uma porcaria e que são legitimas as faltas que os seus alunos têm, ou ainda o pouco interesse em estudar aquilo que está dando em aula, tampouco aceitaria normalmente uma proposta de trabalho mal feita, sem criticar, sem contar aos colegas. Se você pensa que enquanto aluno gostaria de ter uma aula que nem a sua, engana-se ao pensar que todos vão participar da sua aula de bom grado. Querendo ou não, quando um sujeito é adolescente ele não pensa em como aproveitar certos espaços de aprendizagem, e sim no como poderia se livrar do incomodo que é saír de casa de manhã cedo, tomar banho, tomar café e pegar um ônibus lotado pra ir até o colégio assistir uma aula de filosofia que provavelmente ele não entende o porquê do estudo tão desnecessário quanto esse. Claro existe aquele aluno que é interessado, que busca saber das coisas, etc., mas que mesmo assim não consegue manter um rigor nas suas ideias e disposições ao estudo. É isso que um professor que trabalha com psicologia da educação deveria nos dizer, e acabamos por vezes nos remetendo às lembranças do nosso passado escolar. 

Muitos dos educadores, ao fazer esse exercício, compreendem que o aluno tem as suas necessidades que devem ser atendidas: mas você já parou pra pensar que ao retomar o tempo de colégio você poderia estar tratando os teus alunos como sendo "um outro eu que não eu"? As tuas necessidades educacionais são outras e não as mesmas que os teus alunos têm: os tempos são outros, as coisas mudam.

Você continua tratando os seus alunos como sendo “um outro eu que não eu”?





quarta-feira, 10 de julho de 2013

MORALIDADE

O que acontece se aceitarmos o utilitarismo?
Daione Caroline Balduzzi Pavan
Objetivos
·         Trabalhar o princípio da utilidade moral partindo das observações de Michel J. Sandel e James Rachels sobre o assunto.
·         Analisar como a questão do valor está contida na teoria utilitarista.
·         Entender o que significa respeitar as pessoas como sendo um fim em si mesmo, e como isso não se
·         Trabalhar o entendimento de porque que o utilitarismo não poderia ser considerado um modelo de egoísmo moral.
·         Trabalhar a argumentação e reconhecimento de teses e suas razões.

 Justificativa
      Agir moralmente bem é um desafio que todos temos enquanto sujeitos dentro de uma sociedade, pois partimos do pressuposto que as consequências de nossas ações serão fatores importantes para a manutenção da vida. Segue-se daí que o que importa seriam os fins alcançados. O que eu pretendo fazer é perguntar se realmente as coisas acontecem de tal modo. Será que agir conforme a utilidade, sendo essa mensurada a partir dos níveis de prazer e dor, é a melhor forma de descobrirmos o que seja agir bem?  A manutenção da vida realmente depende disso? Se não quais as outras opções que temos?

Fazer o aluno pensar sobre isso é essencial para a sua formação, pois se trata de algo que ele está diretamente envolvido, e que realmente interessa a ele enquanto cidadão. Isto é, o agir moralmente bem, não se trata de um manual prático de condutas a serem seguidas, mas uma reflexão do que pode ou não pode ser correto em dadas circunstâncias. Imaginando uma situação problema em sala de aula em que um sujeito que está à beira da morte pede para que alguém desligue os seus aparelhos, pois não quer continuar a sofrer, ilustra não somente o que seja agir conforme o cálculo de prazer e dor, mas também a problemática envolvida: se é correto ajudar alguém a se matar. O que há de correto no ato de matar nesse caso e que não se iguala ao caso do homicídio, por exemplo?  É esse tipo de coisa que permeia a sociedade em que o aluno está inserido. Imaginando outro caso mais dramático ainda: se eu estivesse em um navio e esse naufragasse, e que poderiam ser resgatados somente quatro pessoas, dentre vinte, levanta-se o seguinte questionamento: quais os critérios de escolha que podemos usar tendo em vista a máxima realização de uma felicidade? Ao perguntarmos aos nossos alunos se é possível pensar assim, não estamos colocando em evidência que tal ação seja boa necessariamente, mas que é possível pensar sobre o fato com o máximo de imparcialidade e daí tirarem as suas próprias conclusões, justificando através de argumentos a posição adotada.

Quando escolhi o seguinte título para o trabalho: “O que acontece se aceitarmos o utilitarismo?”, tinha em mente perguntar aos alunos se eles realmente conseguem comprar por inteiro a teoria utilitarista, em que os fins justificariam os meios, e se não for o caso, no que divergem.


 TEXTO I – Alguns Problemas da Moralidade
Se você escova os dentes, você está fazendo isso para não ter cáries e não precisar ir ao dentista para que ele obture os teus dentes, tendo em vista não sofrer com dores desnecessárias. Se você vai à escola é porque você precisa estudar pra ter um trabalho digno e não sofrer com a falta de dinheiro quando necessitar. Se você acha que a vida de crimes não é uma boa opção de vida, é porque acredita que além do dinheiro fácil tal vida pode te propiciar mais infelicidade que felicidade, logo irá evita-la. Todos esses casos nos mostram que direcionamos as nossas ações tendo em vista evitar a dor ou a infelicidade.

O assunto que vai ser tratado nesse texto é justamente esse: se devemos agir tendo em vista a nossa maior felicidade, ou seja, a teoria utilitarista. Os fins, finalidades ou resultados de nossas ações são coisas que pensamos antes de agirmos, segundo tal tese. Se forem coisas levadas em consideração, é porque acreditamos que isso seja realmente importante para as nossas vidas. Logo devemos fazer tal cálculo para termos certeza de que estamos fazendo a coisa certa. Exemplo: Você está numa concessionária de veículos e tem duas opções: ou você compra o carro, ou a moto. É claro que o carro pode te trazer maior conforto e segurança, porém você quer chegar rápido ao trabalho com esse veículo. No momento você percebe que a melhor opção que te trará maior proveito na relação custo benefício será a moto. Portanto você a escolhe. O que está em jogo neste caso é a sua comodidade, uma vez que tal ação diz respeito a aquilo que queres. Assim sendo parece que tal escolha não desrespeita as outras pessoas.

Imagine agora que um amigo lhe peça R$ 400,00 reais e promete lhe devolver o dinheiro quando possível. O problema é que ele nunca devolve. A ação de pedir emprestados os R$ 400,00 reais não é tida como moralmente correta ou incorreta, mas a intenção em si. O que eu quero dizer com isso, é que se o seu amigo for pedir a você o dinheiro como empréstimo e já ter a intenção de não devolvê-lo, então a ação já é considerada moralmente ruim, pois ele estará mentindo a você. Supondo que este seu amigo seja uma pessoa má intencionada, e pede emprestado o dinheiro, no momento que ele precisar novamente de um empréstimo, não vai conseguir, porque as pessoas não vão confiar nele. Ao pedir emprestado e não devolver, o seu amigo está abrindo oportunidade para que outras pessoas também achem correto fazer o mesmo, pois o que está em jogo é a felicidade individual. Notemos que no caso acima o sujeito considerou todas as coisas que poderiam ser vantajosas para ele em dado momento, e mesmo assim, algumas coisas não são consideradas boas sem restrição em todos os momentos. Ou seja, ele não poderia querer que todas as pessoas agissem do mesmo modo porque ele não gostaria de ser o ludibriado. Como a falsa promessa abre esta possibilidade, logo não poderia ser considerada uma coisa boa sem restrições em todos os momentos.

Prometer falsamente é o mesmo que mentir para uma pessoa. Se por um lado você não gostaria que mentissem pra você, você também não deve querer mentir pelo mesmo motivo. Será mesmo que em todos os casos possíveis a mentira poderia ser considerada uma ofensa aos outros? Imagine agora que você esteja voltando da escola e repentinamente aparece um sujeito a sua frente pedindo um favor: “Por favor, me ajude! Preciso da sua ajuda para despistar um homem que quer me matar. Você poderia fazer isso lhe contando uma mentira?”. Você sabe que prometer falsamente é um tipo de mentira que não contempla as pessoas em todos os casos, isto quer dizer que se não contempla é ineficiente. A ineficiência da mentira pode ser traçada pelo simples agir em um caso isolado. Se fossemos pensar no caso em que se vê obrigado a mentir para salvar a vida de outra pessoa que nem conhece é porque você se sente responsável pelo que pode acontecer ao sujeito. Se o sujeito que você ajuda for morto por causa da informação verdadeira que você dá a outro sujeito que quer matar o primeiro, você também vai se sentir culpado. Isto é, por causa dessa possível sensação de culpa que você não vai contar ao possível assassino onde está o primeiro sujeito que lhe pediu o favor.

Fazendo isso você continua com o seu cálculo de felicidade sempre positivo, pois não se sentirás culpado pela morte do primeiro sujeito.  Então quer dizer que se aceitarmos esta concepção moral, de que precisamos ponderar o que mais me traz felicidade então estou sendo egoísta?


TEXTO II -    O Utilitarismo Pode Ser Considerado um Tipo de Egoísmo Moral?
Um filantropo pode ajudar a outras pessoas porque acredita que aquilo é o certo a se fazer, mas ao mesmo tempo nada garante que ele esteja agindo de modo a realizar um desejo que tem. Ao roubar o celular de uma pessoa enquanto ela anda distraída pela rua, o ladrão, não só aparenta fazer uma coisa errada, mas também consideramos ser este um ato que não leva em consideração o que os outros querem ou sentem. Será que agir conforme um cálculo de felicidade não poderia ser tido como uma forma de agir de modo egoísta?

Se ao agirmos procuramos fazer um cálculo entre prazer e dor e buscamos geralmente aquilo que nos proporciona maior felicidade, então estamos tratando de uma teoria moral que legitima o egoísmo como parte atuante nas nossas decisões. Isso quer dizer que se o sujeito entende algo como sendo bom sem reservas é porque entende que aquilo é o melhor a ser feito para ele e ponto. Ou seja, não leva em consideração as outras pessoas que possivelmente estão envolvidas na situação, e, portanto, o beneficiário é o sujeito agente, pois sua ação tem em vista a busca pela sua própria felicidade. Assim uma pessoa poderia ajudar a outra não porque considera seu dever fazê-lo, mas porque entende que aquilo de alguma forma pode lhe ajudar. Exemplo: Joaninha estava passando por uma fase difícil em sua vida, uma amiga lhe aconselhou a ir numa instituição de caridade, ensinar as crianças que ali estão sendo atendidas, técnicas de tricô e crochê. Logo que começa a fazer tal atividade ela percebe uma melhora no seu humor. Assim a ação que a Joaninha desempenhou não visa necessariamente a ajudar as crianças daquele lugar, mas sim melhorar a sua autoestima. O fim, na verdade, é o bem dela mesma.

Isso corrobora com aquela pergunta que eu fiz no final do texto anterior. Se você mente para o assassino, você o faz em vistas do quê? Você pode mentir para o suposto assassino com vistas a salvar o sujeito; ou ainda porque não quer sofrer com o infortúnio que a angústia pode lhe causar. Se disser a verdade você também pode pensar em si, pois o suposto assassino pode voltar e lhe matar por causa da falsa informação; ou ainda você pode não mentir tendo em vista salvar o outro sujeito, vai que ele tenha saído e escapado do local onde se escondeu e depois encontre com o assassino e tenha a infelicidade de ser morto.

Pensemos no seguinte exemplo, a fim de excluir a ambiguidade do problema: Luciana mora em um lugar próximo a uma represa, que arrebentou por causa da chuva torrencial. Ela conseguiu juntar toda a sua família na Combi que tem (o filho o marido e o cachorrinho, mais algumas coisas básicas, como comida e alguns agasalhos). Mesmo assim ela decidiu ajudar os outros vizinhos. Como a combi é muito velha ela só pôde escolher mais três pessoas: uma senhora de oitenta anos, o seu marido, e mais uma criança que estava perdida, cujos pais estavam fora do local da enchente. Vejamos bem: ela utilizou como critério para escolha o fato de essas serem pessoas que não conseguiriam escapar às pressas e sobreviverem. Fica evidente, portanto, que Luciana pensou somente no que deveria ser feito. Ela não pensou no mérito como muitas pessoas poderiam argumentar, porque em um momento como esse você só pensa em fazer aquilo que pode e deu. Ou seja, essa ação não poderia ser interpretada como sendo um resquício do egoísmo.

De certo modo não poderíamos aliar o utilitarismo a certo egoísmo moral. Poderíamos dizer que Luciana, no momento que escolheu aquelas pessoas para entrarem no seu veículo além de estabelecer um critério de escolha entendeu que se morressem, outras pessoas da comunidade sentiriam a falta delas. Ou seja, se ao sentir falta a pessoa fica triste, isso não gera prazer, muito menos felicidade. Já como eles estavam em uma situação difícil, poderia piorar ainda mais a infelicidade deles se alguém morresse. Já como a teoria utilitarista tem por objetivo mostrar que as nossas ações são regradas por sensações de dor e prazer, devemos sempre fazer o possível para escaparmos da dor, pois isso nos leva a nossa felicidade ou temos menos desprazer na vida. A minha felicidade se soma a felicidade dos outros fazendo com que a minha sociedade seja feliz. Logo aquilo que eu considero bom é algo que pode ser bom para todos, pois tem em si a mesma finalidade, a de fugir da dor e buscar a felicidade.

O egoísmo de certo modo também leva em consideração o que o sujeito entende como sendo bom para ele mesmo. Mas a diferença é que ele, antes de agir, vai levar em consideração somente aquilo que considera bom pra si, usando as outras pessoas como meios de suas conquistas. Isso ocorre no utilitarismo, mas na maioria das vezes está em jogo o bem comum de dada sociedade, o que nos faz perguntar se é correto fazer isso tendo em vista a felicidade geral.

TEXTO III - É correto usar as pessoas como meio para um fim?
1.    Até agora tratamos de casos que envolvem o interesse dos outros de um modo um tanto quanto secundário, como se fosse o papel de parede de uma problemática maior. Chegou o momento de darmos uma olhada mais a fundo no que significa dizer que é possível usar as pessoas como fim que não elas mesmas.

2.    Supomos que você conheça um homem que sobrevive extorquindo mulheres. Ele as usa de tal modo que elas não percebem que estão sendo roubadas pelo companheiro. Ele pede dinheiro para comprar comida para os seus gatos, peças de computador e sempre promete que vai devolver a quantia emprestada. Mesmo assim, elas não acham estranho o comportamento desse homem, que além de viver pedindo dinheiro para pagar suas contas, ele as trata mal. Esse homem está na verdade usando essas pobres mulheres como meio de sua finalidade: viver bem sem desprazer, buscando realizar a sua felicidade sempre tanto quanto for possível, que é viver às custas dos outros. Isso seria por si só errado porque desrespeita um sujeito enquanto possuidor de uma vontade e dignidade. Ou seja, dizemos que um ser humano é digno de respeito porque possui a capacidade de raciocinar, que todos os seres humanos têm inclusive eu.  O que está em jogo, portanto, é o como tratamos os nossos iguais. Devemos levar em consideração os interesses dos outros. Mas por quê?

3.    Supomos agora, que você é um policial e que está investigando um possível caso de terrorismo. Você captura o suspeito, porém ele não quer falar. Você conversa numa boa com o sujeito, explica a situação dele dizendo que se ele não colaborar ele pode ser sentenciado a uma pena maior. Enfim, respeita o sujeito como sendo um fim em si mesmo, e mesmo assim ele não quer cooperar com as investigações. Depois você passa a ser intolerante e o tortura. Certo momento um colega seu tem a ideia de sequestrar a mãe do sujeito, com a esperança de que ao privá-la de sua liberdade o sujeito comece a dar o depoimento sobre o caso. Ou seja, a ideia desse seu colega é bem simples: ele pensa em usar a mãe do sujeito como meio de descobrir onde está a bomba, tendo em vista salvar outras pessoas que podem morrer, caso for detonada. Se vocês não fizerem isso ele não vai falar e muitas pessoas poderão morrer por causa desse irresponsável. Você acha correto fazer isso?

4.    Se você respondeu que sim é correto torturar a mãe do bandido é porque você é um utilitarista e está pensando no bem maior de outras pessoas. Caso você respondeu que não é correto fazer isso porque ela é uma pessoa e deve ser respeitada como tal então não poderia ser correto para você, torturar o terrorista. Uma das críticas ao utilitarismo é justamente essa: que ele não consegue respeitar os direitos individuais. Uma vez que tal tese se compromete somente com um cálculo de prazer e dor, então o que é certo a fazer é aquilo que propicia maior felicidade para o todo e em casos isolados, onde os direitos e vontades dos outros não estejam em jogo. A mãe do sujeito nesse último exemplo mostra justamente isso: a vontade dela não é respeitada se acaso você acreditar que o melhor a ser feito é justamente trancá-la em uma cela como modo de torturar o teu suspeito. Por outro lado parece legítimo fazermos isso tendo em vista o bem comum. Se não torturarmos a mãe do sujeito teremos um monte de pessoas mortas e é isso que não queremos.

5.    Continuando a ferir a dignidade alheia, vamos ao terceiro exemplo: após uma grande explosão sobrevivem apensas cem pessoas que estavam dentro de um bunker situado na região do círculo polar antártico. Após a explosão as geleiras evaporam, restando apenas as rochas, terras e o bunker. O problema agora é como manter a vida, tendo em vista que os recursos que garantem a vida como água e comida evaporaram ou viraram pó, a única saída que o grupo encontrou de manter a vida dessa nova sociedade pós-apocalíptica é matando os 17 homens com mais de quarenta anos e usando a sua carne para a nutrição.  A primeira vista isso é horrível, porque não consideramos correto matar e comer a carne de um ser humano. Mesmo assim, pode ser considerada tal ação como correta, o certo a se fazer naquelas circunstâncias. A escolha daqueles 17 homens com mais de quarenta anos não foi por um acaso; foi feito um cálculo baseado na relação custo beneficio. Os outros homens mais novos são mais fortes e por isso conseguem erguer, se preciso, alguma parede, defender a nova sociedade de algum animal mutante remanescente da explosão.

6.    Nestes dois últimos casos não julgamos ser tão errado assim não respeitar as

pessoas como fim em si mesmas. Embora que no primeiro exemplo achamos horrendo e triste ver um homem se aproveitando de várias mulheres em benefício próprio. O que distingue esses dois últimos casos do primeiro, são as circunstâncias. O homem aproveitador poderia trabalhar para viver bem, mesmo assim escolhe sobreviver do que as mulheres lhe dão. Os outros dois casos são caracterizados pelo fato que em condições normais, não faríamos isso. Finalmente, isso seria desculpável porque não é natural das pessoas comerem umas às outras, muito menos torturar a mãe de alguém (salvo no caso do psicopata sádico, mas aí a pessoa tem um problema na região do cérebro que controla nosso senso de justiça e o impossibilita a pensar diferente as suas relações com os outros).

sábado, 8 de junho de 2013

É COMPLICADO!

Há muito tempo que estava querendo publicar um post sobre o conceito de “complicado” que ouço por aí. Bem lá vai...

A primeira consideração que queria colocar neste post é que mesmo que as pessoas pensem que o a palavra complicado significa algo que não dá pé, na verdade considero tal palavra com sendo um convite desafiador para que nos renovemos constantemente nas nossas ações cotidianas, inclusive em sala de aula. Quero dizer com isso que o conceito de complicado que usamos ultimamente não é o conceito correto e não quer dizer o que realmente a palavra quer dizer. Isso se deve ao fato que muitas vezes buscamos certas desculpas que não condizem com a realidade de nossos alunos, pois acreditamos que fazemos a nossa parte. Se fizermos a nossa parte, então podemos descansar tranquilamente à noite. O problema que a coisa não deveria ser pensada de tal modo.

Imagine que você está dentro de uma sala de aula com trinta adolescentes com os hormônios estourando e que você deve transmitir o conhecimento que tens a eles. Nenhum aluno está prestando atenção em você. Ninguém quer saber de matemática, física e se você for professor de filosofia, você percebe que a situação se complica ainda mais por causa do descrédito e preconceito institucionalizado na nossa sociedade – só agora é que estão surgindo políticas que tratam do ensino de filosofia –(olha só o nosso termo aparecendo aqui novamente XD). A questão é que muitas vezes nos escondemos atrás desse termo e o significamos como algo impossível. A palavra complicada, quando usada, pontua a existência de algo difícil de ser feito. Isso não quer dizer que as atividades que você propõe sejam impossíveis de serem feitas. A desculpa é sempre a mesma: eles não querem nada com nada. Infelizmente alguns professores pensam assim. Eu já tive professores com esse tipo de pensamento, todo mundo já teve. Numa das escolas onde eu estudei (ainda bem que fiquei somente um ano), tinha uma professora que lançava a seguinte máxima: “Esse aí é irmão do Fulano. O Fulano parou de estudar na quinta série, não é ninguém, vive vendendo droga... esse daí vai seguir o mesmo caminho, por isso não preciso me preocupar com ele!”. Bem hoje o irmãozinho do Fulano tá fazendo faculdade, não sei do que, mas está fazendo (não é a faculdade do crime!, faculdade mesmo!!!). A teoria da hereditariedade genética que essa pessoa que se diz educadora não passou despercebida por mim, pois achava um absurdo desde aquela época de ensino fundamental. Continuando o restante desse pensamento ridículo e preconceituoso ela dizia: “Eu tentei explicar ao irmãozinho do Fulano, mas ele nunca me ouviu, esse daí também não ouve, é complicado lidar com gente assim!”.  Outra vez a palavra complicada aparece como sinônimo de impossibilidade.

Certa vez estava eu e a minha irmã num jantar de comemoração de término de mestrado de uma amiga minha. Essa minha amiga também tinha uma amiga que é professora da educação infantil. Acho que fiquei tão complexada com essa situação que eu acabei pegando a mania de testar as outras pessoas. Comecei a conversar com ela sobre educação. Daí comentei que a professora da FACED disse que devemos analisar a turma e que havia coisas que poderíamos fazer com tal turma e com outras não porque era complicado de ser feito (claro, tudo mentira: nunca ouvi isso), e o pior ainda, disse que concordava. A cara que a guria fez foi de revolta. É sério, nunca vi uma educadora tão revoltada com uma besteira dessas, e ainda bem que ela é revoltada com esse tipo de fala! Fiquei muito feliz de descobrir que existem pessoas que não pensam desse jeito manipulador e triste. Claro, passei por uma completa abobada... mas enfim, gostei de saber que ela tinha passado no meu teste. Porém, existe outro teste implícito que era a conceptualização do termo complicado, que ela não quis se adentrar, ou que no momento ela não pensou em formular. De novo o termo complicado descontextualizado (ou tido por ela de tal modo descontextualizado)!


Adoro falar besteiras e ver como as pessoas reagem a elas. O problema é que me torno uma pessoa sem crédito no que falo (tenho que mudar essa mania). Mas o bom é que consigo extrair aprendizados poderosos, tão poderosos que valem a pena tal descrédito. Para encerrar, voltando ao assunto desse post, é complicado achar que quando um aluno não aprende não é problema nosso. É problema nosso, pois estamos tratando da vida daquele sujeito. Ainda não tive o desprazer de rodar algum aluno, mas antes de fazê-lo pretendo insistir muito nele, pra depois poder dizer que fiz tudo o possível, que tentei vencer as barreiras do complicado com ele e aí sim, dormir em paz!

quinta-feira, 8 de novembro de 2012

ALGUMAS REFLEXÕES SOBRE ENSINO DE FILOSOFIA NO ENSINO BÁSICO

Este post terá como finalidade explicitar a minha opinião sobre projeto didático pedagógico em filosofia. São notas de aula e experiências vividas (mesmo que curtas), que propiciaram tal reflexão. Portanto, digo de antemão que  há ideias que vão ser desenvolvidas com o tempo na atividade de docente que irei desempenhar nos estágios, e posteriormente em sala de aula. Provavelmente haverão coisas que as pessoas podem não concordar e que podem (talvez devam) ser mudadas com a prática em sala de aula. Divirtam-se com os meus exageros pedagógicos ....


Pensar o que irá ser trabalhado.

Parece trivial, mas isso é a primeira coisa a ser feita. Parece que muitos professores se esquecem disso ao organizarem as suas aulas quando que não propõem um tema central a ser discutido. Por exemplo: o professor Antão resolveu dar aula sobre os problemas da sociedade, na aula seguinte ele resolve trabalhar com a política aristotélica. É óbvio que esses temas são muito interessantes, mas qual é o foco a ser trabalhado? Essa questão é importante porque o aluno ao entrar em uma sala de aula vai se perguntar justamente o porquê que ele está estudando aquilo, e se isso tem algum fundamento, e como pode justifica-lo.
Ao pensar no que pode ser trabalhado com os alunos devemos levar em consideração alguns aspectos importantes, a saber:

a)      Comportamento, Como se dá a interação entre eles: podemos pensar que o aluno ao entrar em sala de aula e interagir com o resto da turma, busca em primeiro lugar, encontrar o seu espaço dentro de um grande grupo buscando criar sua identidade e sua personificação. Ele pode ser caracterizado como o aluno que não quer nada com nada, ou o CDF, ou ainda como o irritante que quer boicotar a aula do professor. Mesmo com cada personalidade definida, devemos pensar antes de tudo o como a turma lida com essas personalidades tão distintas. Se há uma aceitação, e como ela se dá. E no caso dos alunos com o professor como se dá a intervenção deste educador: de modo abrupto (xingamentos) ou tranquilo (um simples “chamar a atenção” da turma). Ao analisar esses detalhes podemos traçar (aproximadamente NUNCA PRECISAMENTE) um perfil da turma, e daí de acordo com esse perfil, montar atividades que sejam relativamente agradáveis para o grupo, e que o professor consiga dirigir de maneira agradável a tarefa que se propõe a fazer com seus alunos.

b)      Como eles veem a disciplina de filosofia: uma coisa muito importante nos dias de hoje, é como a filosofia é vista pelos alunos. Uma parte muito significativa dos estudantes do ensino médio não gosta da matéria de filosofia por não verem grandes progressos intelectuais no que estão fazendo, como eles percebem em português, matemática, física, etc., por conta das notas atribuídas, pela facilidade de encontrar o problema nas resoluções de seus exercícios e também pelo descrédito que a filosofia sofreu por causa da ditadura militar. Vemos algum esforço do Governo Federal de tentar colocar a filosofia como sendo uma matéria como qualquer outra ultimamente, porém esse é o primeiro passos de muitos. Por esse motivo acho mais interessante trabalhar um tema introdutório, discutindo o que pra eles é filosofia (muitos vão ter a cara dura de te falar que isso é uma viagem completa que não tem cabimento XD), e logo em seguida trabalhar algum texto sobre o assunto.




Pensar como o assunto pode ser trabalhado de modo pontual, didático e autônomo não esquecendo o embasamento teórico.

Quando pensamos em um embasamento teórico, temos por finalidade uma ideia precisa do que trabalhar segundo mediante texto. Isso é bom, e é preciso. O que acontece muitas vezes nas aulas de filosofia é que o professor acorda inspirado com um tema latente na cabeça, e resolve trabalha-lo como sendo a coisa mais inovadora na face da terra, esquecendo o bendito embasamento teórico. O embasamento teórico, ao qual me refiro, é um texto de um autor, seja ele filósofo, comentador, ou autor de contos, fábulas, romance ou qualquer outro gênero literário. Esse é o texto que deveria nortear toda a discussão, por ser ele o estopim da discussão.  

O que acontece muitas vezes, é que o tema a ser desenvolvido é um tema muito bom, super legal de se trabalhar com uma turma de adolescentes ou crianças. E por esse motivo, por ser um tema muito bom e por ser maleável, o educador acaba ficando somente na organização de opinião. Ele pode promover o debate entre seus alunos, mas dificilmente estes alunos vão conseguir sair do debate e expressar um argumento a favor ou contra algum posicionamento qualquer (sendo essa a meta do educador na área da filosofia), pois falta tal embasamento teórico.

Por isso, acho muito importante deixar claro alguns aspectos:
i)  Devemos trabalhar analise e redação de textos filosóficos com os nossos alunos, pois isso faz parte da formação deles como indivíduos. Devemos nos lembrar que a língua portuguesa é sempre muito privilegiada nas instituições de ensino, por ser este o modo de se conseguir uma boa comunicação entre as pessoas. Com o texto filosófico, não é diferente! Ao trabalharmos analise de argumentos com os nossos alunos, estamos estimulando a organização do pensamento e a composição de novas ideias precisas.


ii)    Não estou dizendo que não há como trabalhar com os alunos algo diferente como uma dinâmica, ou uma atividade em grupo, muito antes pelo contrário, devemos estimular os adolescentes a desempenharem tais atividades.  Porém existem condições para que consigamos trabalhar com essas atividades que serão apresentadas posteriormente.

Reunir materiais que falam sobre a problemática proposta;

O embasamento teórico nós já temos. Agora faltam os textos e os materiais subjacentes a serem usados em sala-de-aula. Estes textos podem ser anúncios de jornais, músicas, propagandas. Os materiais, podem ser jogos ou vídeos. Devo concordar que os jogos são um pouco complicados de serem achados, por esse motivo acho válido o professor aprender a organizar um material didático que sirva como um meio de se descobrir novas coisas, ao mesmo tempo em que é proporcionada alguma diversão aos estudantes. Claro, devemos ter bem claro que a aula de filosofia não é um espaço de divertimento apenas, mas sim de uma organização que viabiliza a obtenção do conhecimento de uma maneira simples, direta e que pode ser descontraída ( por que não?). o problema é como fazemos isso !

Ao pensar um grupo de atividades que envolvem a reflexão filosófica, como jogos, análise de textos, o uso de filmes ou seus trechos, estamos, em ultima analise, tentando desenvolver o potencial cognitivo de nossos alunos de modo que eles saibam como agir sozinhos ou em conjunto diante de um problema. A questão apontada ao término do parágrafo anterior versa sobre a possibilidade de conseguir desenvolver tais atividades tendo isso como objetivo. Não há uma receita pronta para a organização do espaço de conhecimento, pois o temperamento da turma é definido mediante as condições ao qual está submetida. Portanto é preciso por parte do educador uma boa capacidade de observação da turma no momento em que ele dá aula e anotar quais as reações que os alunos acabam tendo quando apresentada alguma proposta de trabalho. Assim podemos ter parcialmente uma visão do como eles gostam da aula e delimitar algumas restrições no comportamento do grande grupo. Pois como diria Tomaz Tadeu “o currículo é uma questão de saber , identidade e poder”.

Desejo continuar com uma breve reflexão do excerto de Tomaz Tadeu adaptada ao ensino de filosofia. Devemos levar em consideração que o currículo pode ser um percurso na vida de um aluno que vai significar algo pra ele. A variação de como ele adquire  o conhecimento e como ele o absorve, vai depender, antes de tudo, de como ele se habilita a descobrir novas coisas, novas ideias. E por isso acho de extrema importância a imposição e a cobrança de uma organização rigida dos trabalhos efetuados, pois essas nossas ações pedagógicas modelam o individuo, cuja confirmação teremos quando este individuo chega à idade adulta. Por esse motivo acho importante frisar que as partes envolvidas no processo educativo de um indivíduo são o aluno, seus pais, a escola como um todo e seus professores, pois eles fazem parte da convivência e acabam formando (ou deformando, com suas atitudes nem um pouco louváveis quando é o caso) o caráter do individuo. Assim posso concordar com Tomaz Tadeu :

       “Se quisermos recorrer a etimologia da palavra currículo, que vem da palavra latina curriculum, ‘pista de corrida’, podemos dizer que no curso desta corrida, acabamos por nos tornar o que somos. Nas discussões cotidianas, quando pensamos em currículo, pensamos apenas em conhecimento, esquecendo-nos de que o conhecimento que constitui o currículo está inextricavelmente, centralmente, vitalmente envolvido naquilo que somos, naquilo que nos tornamos: na nossa identidade na nossa subjetividade.” (TADEU, pag.15)


Desenvolver debates entre os alunos nos grupos tendo por objetivo os seguintes aspectos:
Ø  Desenvolver um raciocínio critico;
Ø  Organizar o argumento filosófico proposto com os grupos e a turma;
Ø  Promover uma discussão produtiva entre os alunos.
Parece trivial novamente, mas não é. Muitos assuntos se perdem na má organização de um debate. É preciso algumas questões –foco para que possa ser feita uma boa reflexão filosófica acerca do assunto.  Assim, podemos traçar uma linha (mesmo que seja tênue) que delimita o assunto. Podemos e devemos fazer com que nossos alunos tenham a capacidade de refletir sobre as suas ideias e qualificações acerca do assunto, porém tudo deve possuir uma organização para que a experiência não seja desagradável por conta de brigas e discussões desnecessárias. Portanto o papel do professor neste caso é o de mediador garantindo a criticidade proveniente dos alunos, a organização do pensamento filosófico e a discussão sadia na turma.
Leitura dos textos em aula, em conjunto;
Essa é uma atividade que exige muito do professor e dos alunos. Eu aconselho a não trabalhar textos muito extensos quando a ideia é ler um texto em conjunto, por causa disso:
1.      O aluno pode se sentir mau ao ler, e depois passar para outro que também pode se sentir mau ao desempenhar tal atividade;
2.   Fica muito cansativo um texto muito extenso ao ser lido, por isso acho importante a existência de certos critérios, como por exemplo: o texto deve ser um texto que não tenha argumentos muito complexos, ou que trata da história da filosofia; é preciso promover também a discussão em sala de aula do texto e por esse motivo não usaria um texto muito extenso, pois o trabalho ficaria sempre inacabado.
3.   Deixar a analise do argumento para depois da leitura do texto.

Critérios de avaliação;
Ao pensarmos o modo como os nossos alunos são avaliados, devemos organizar certos critérios de avaliação que avaliem antes de tudo o interesse do aluno, o comprometimento, e principalmente como o aluno entende essas novas informações. Para tanto devemos ter em mente que estes critérios devem estar sendo sempre usados, não somente em período de atividade e sim em todo o momento das aulas (o que acho que muitas pessoas esquecem ao avaliarem seus alunos. Por esse motivo temos a aberração chamada “passar pelo concelho”, que não funciona se o aluno não for dedicado, pois mais adiante ele vai ser barrado por algum problema na sua formação do conhecimento.). Para mim, há dois critérios básicos de avaliação que se bem seguidos não precisaremos de outros:

Ø  Participação em aula;
Muita gente acredita cegamente que a participação em aula é um dever do aluno, e não discordo disso. O problema é que o aluno ao entrar em sala de aula aprende a testar o espaço e as pessoas ao seu redor (psicologias afirmam isso, principalmente no período da adolescência). Agora, devemos ter em mente que a participação em aula é um posicionamento meritocrático, em que o aluno aprende que se ele tiver um bom desempenho em sua participação ele vai ganhar nota, e o pior, muitas vezes pode ser entendido como o meio de conseguir passar no conselho escolar.

Tal critério é complexo por abarcar várias questões como éticas e morais, por exemplo. Devemos ter em mente que devemos fazer com que a matéria de filosofia seja respeitada, por esse motivo devemos utilizar tal critério ao longo do semestre, e atribuir valoração a ele. Para tanto tal valoração deve ser antes de tudo, colocada em conjunto com as outras atividades, para podermos argumentar a favor daquilo que realmente acontece com o aluno, tentar ajuda-lo quando for possível e evitar que o aluno passe sem saber direito do conteúdo exposto em aula porque o conselho escolar decidiu. Claro, podemos até pensar que esse é um meio de tentar burlar o conselho que estabelece implicitamente que a filosofia é uma matéria diversão, que não possui direitos de rodar um aluno... Claro que tenho em mente que mesmo no espaço pedagógico a filosofia não é vista como uma matéria séria e é esse o ponto que quero chegar.

Parece que se estabeleceu nos grandes centros educacionais a ideia de que a pessoa que trabalha com filosofia não está ligada nas coisas que acontecem no mundo, e que ela como matéria aparenta ser algo que não precisa ser relevada, e sim executada por ser um capricho do governo. Pois bem, sabemos disso tudo como se fosse uma verdade incontestável, por obtermos dados empíricos sobre o problema. A questão está de onde vem esse discurso. Coloquei anteriormente que a filosofia havia sido retirada dos currículos escolares do ensino médio no período da ditadura militar. Quando os militares fizeram isso, eles tinham em mente que um povo que não pensa era melhor de ser controlado e por esse motivo excluíram matérias como a filosofia e a sociologia do currículo escolar, e ai podemos ver o currículo como sendo um formador de ideologia.  Com a proibição vieram boatos de que essas duas disciplinas não eram importantes para a formação do individuo, pois estavam sendo substituídas pelas disciplinas de OSPB e Educação Moral e Cívica onde os alunos aprendiam coisas como cantar o hino brasileiro, o dia da bandeira, deveres do cidadão, etc. Claro, o aluno não aprendia a pensar e sim a decorar coisas tidas como importante para passar de ano no colégio.

Claro, isso vem mudando lentamente, tão lentamente que haja santa paciência. Mas o importante é que isso vem mudando. Por esse motivo, acho de extrema importância para o educador que trabalha com filosofia saber que a matéria ao qual ele desempenha é importante para formação de seus alunos como pessoa e por esse motivo ele deve procurar pesquisar sobre os assuntos a serem trabalhados em sala de aula. Para tanto é preciso que o professor enquanto professor mostre aos seus alunos a relevância de sua disciplina, mostrando que ela pesa sim no conselho escolar.


Ø  Prova escrita com consulta ao próprio material, seguindo critérios abaixo:
§  Coerência nos argumentos criados ou remontados;
§  Elucidação do problema utilizando exemplos próprios;
§  Uso da estrutura básica de redação escolar: texto contendo início meio e fim:
¨      6.2.3.1) INICIO: explicação sobre o problema, expondo a sua relevância e apontando qual é a opinião formada;
¨      6.2.3.2) MEIO: Desenvolvimento de argumentos favoráveis a opinião apontada na introdução, como meio de justificar tal posicionamento diante do problema.
¨      6.2.3.3) FIM: conclusão apresentando um argumento final sobre a opinião defendida e uma possível solução para o problema.
¨      6.3) Trabalho em grupo supervisionado;
O trabalho a ser desempenhado, visa a organização dos alunos enquanto atuantes dentro do espaço de produção e organização do conteúdo ao qual estão desenvolvendo. Para tanto é preciso que o grupo saiba interagir entre si, e busque coisas novas para o seu trabalho, tendo em vista  aprimorar o seu conhecimento.        
¨      6.4) Organização do material de estudo: aqui será levado em consideração a procura do conhecimento por parte do aluno, bem como o seu empenho em entender a matéria.

quinta-feira, 15 de dezembro de 2011

O CURRÍCULO


Podemos pensar a educação de vários modos. Quando afirmamos isso estamos deixando de lado a ideia de que o currículo deve ser único e simplesmente atrelado às funções burocráticas do meio escolar. Tenho certeza de que quando falamos em currículo estamos expressando o que realmente perfaz o caminho do indivíduo aluno e do individuo professor, sendo ambos muitas vezes vistos como partes antagônicas do processo educacional. O currículo, portanto é multifacetário: Vimos que nesta relação (entre aluno e professor) o professor se mostra como sendo aquele que constrói o conhecimento a partir do entendimento das coisas atreladas à sua matéria, onde muitas vezes este individuo não consegue trabalhar temas transversais por estar tão habituado com a sua matéria. O individuo aluno por vezes, se mostra estando submetido a esta forma de educação.

A função do professor muitas vezes está submetida ao sistema de notas. Os professores procuram estar em dia e fazer as suas partes para que os alunos não sejam prejudicados. Há a relação do professor com o cumprimento de prazos, onde a eficiência dele está atrelada a isso. É como se o índice de qualidade de um professor fosse medido através disso (sendo que todos nós sabemos não ser essa a medida de competência), não há outra forma de mensurar isso a não ser desta forma, aparentemente. O problema disso se encontra na organização social ao qual estamos inseridos, pois vivemos em uma sociedade que presa por tal valor, onde o tempo que estamos utilizando significa ganhar e ganhar, e quando não utilizamos da mesma lógica do “ganhar” estamos perdendo por fazer coisas interessantes para o conhecimento. E desta forma parece que a organização curricular deve estar de acordo com um plano de metas a serem cumpridos e só. É óbvio que não tem como concordar com isso porque a educação é muito mais que uma mera formalização do sistema educacional. É muito mais que a simples distribuição de tarefas e a sobreposição de ideais. É muito mais que a relação antagônica que o próprio sistema tenta impor sobre os indivíduos no espaço escolar. E assim sendo, o currículo também não é uma mera listagem de conteúdos, e sim pode ser chamado de processo evolutivo que vai estar presente na educação do individuo, submetido à organização do espaço, e às características da turma.

Para que estes problemas comecem a ser resolvidos devemos pensar em primeiro lugar na tentativa de se estabelecer um diálogo. Tentar entender o que o aluno traz como bagagem cultural para dentro da sala-de-aula. Devemos ensiná-los que responsabilidades existem e que o mundo fora do ambiente escolar é grandioso e vasto (eles têm escolhas a serem feitas e, portanto é necessário ter prudência na hora de decidir as coisas tanto no campo social quanto no familiar). Isso faz parte do currículo, faz parte do cotidiano escolar e dos laços estabelecidos entre os alunos e professores.

Desta forma, vimos que o currículo se constrói através dos tempos e de como o professor passa o conteúdo aos seus alunos, pois as suas convicções vão fazer com que a aula seja pensada de tal forma e não de outra. Vimos que o currículo é um lugar, um espaço determinado onde construímos o nosso conhecimento, as nossas convicções e ideias. Vimos também que ele é a trajetória que perfaz toda a vida do aluno como também a do professor, ele perfaz a vida do aluno e do professor (é nele que vemos o programa dos conteúdos a serem ministrados nas aulas). Por último o currículo faz parte da nossa formação, e por fazer parte dela acaba submetendo 

quarta-feira, 7 de dezembro de 2011

A RELAÇÃO ENTRE SABER E PODER


O saber desde os tempos mais remotos sempre esteve atrelado à ideia de poder. Esta associação tinha por objetivo segregar, diferenciar e viabilizar o comando à(os) um (alguns) individuo(os) que tivessem conhecimento, e poder econômico. O ambiente escolar é composto com pequenas características atreladas a este domínio, e por muitas vezes acaba por reproduzir as questões e problemáticas colocadas no mundo.

 Aristóteles, filósofo grego, dizia que o homem por excelência, era aquele que proveria o seu sustento. Por isso deveria ser educado para desempenhar o seu papel tanto no meio familiar (esfera privada), quanto no meio estatal (esfera pública). Para desenvolver o seu papel de cidadão, não poderia desempenhar atividades que estivessem ligadas diretamente com o sustento da vida, e sim deveria estar preocupado com as deliberações que a polis teria que fazer. Platão vai dizer que o melhor tipo de governo é o reinado dos reis filósofos, pois além de conhecerem o que uma sociedade precisaria, ele não vai governar para os seus próprios interesses. Isso porque Platão pregava ser necessário o desfazimento dos bens individuais quando que assumido um cargo público, tendo em vista certa comunidade de bens. Já Hobbes, por outro lado, diz que a imposição de forças no estado de natureza humano, vai contar para que sobrevivamos, e a condição do poder em última análise, vai estar submetida a eterna disputa de busca da sobrevivência e que para ordenar tudo isso é necessário um contrato que estabeleça princípios e um governante. Neste caso, é na figura do governante que vai estar a imposição da ordem, em última análise o poder.

Assim como os filósofos, vemos necessária na atualidade tal relação e ensinamos aos nossos alunos e alunas. Essa relação entre saber e poder também se estabelece dentro da sala de aula. Vemos isso presente quando um professor impõe ao aluno questões que ele não está habituado, e que a simples assimilação, muitas vezes se torna um problema porque foi imposto pelo professor. Aí entra a figura do aluno rebelde que fica testando a paciência do educador, tentando desvirtuar a aula como uma forma de tentativa de impor o poder sobre aquele “opressor” (sob a ótica do aluno). Notamos também que a relação entre poder e saber ocorre nos pequenos grupos entre alunos que se estabelecem entre eles. Notamos muitas vezes, esparsos, implícitos ou inscritos em suas ações os parâmetros para a escolha daquele individuo, que muitas vezes o é, simplesmente para fazer os trabalhos para o resto do grupo (aí entra a figura do saber) e a proteção do chefe do grupo (aí entra o poder), sendo notada a opressão que o aluno escolhido sofreria por parte dos colegas se continuasse sozinho (claro isso pensando uma classe que não tenha noções básicas de comportamento no espaço escolar muito menos respeito). Desta forma vemos que o poder se relaciona com o conhecimento como uma forma de imposição.

Agora, podemos voltar para a sociedade que vivemos. Conseguimos perceber, por vezes, que o que conta são as relações que são estabelecidas entre pessoas que representam certo poder. Grande exemplo disso é o período eleitoral. Muitas vezes votamos naqueles que aparecem mais por deterem melhor “condições” de governar, nos baseando, muitas vezes, pelo currículo do candidato exposto no período eleitoral. Aparentemente continua a ideia do senador biônico só que o candidato fala no período eleitoral tudo aquilo que só o narrador falava anteriormente, condicionando o seu poder ao meio publicitário ou o meio de comunicação, que o candidato, por sua vez paga fazendo alianças e prometendo ações para a iniciativa privada. Essa relação de poder é cíclica. O que é pior nisso tudo, é que ela se repete, não sendo um movimento sempiterno porque as pessoas envolvidas nele vão morrendo, mas a sua forma estrutural continua sendo a mesma e é esta que ensinamos em sala de aula.

A sala de aula por vezes se torna o ambiente de reprodução da sociedade. Muitos teóricos defendem a ideia de que a escola deve educar para a vida, e realmente é isso que muitas vezes ocorre. Parece que não pelo fato de se ter a mesma estrutura hierárquica do professor sobrepondo-se aos alunos e a regra de transmissão conteúdo. O detalhe, é que mesmo ocorrendo isso, o professor acaba se envolvendo com os alunos, e a preocupação dele acaba virando o entendimento. É na relação de poder que o professor enquanto professor vai estar submetido ao meio escolar, e desta forma se torna precisa certa relação entre estes seres. Se formos pensar mais a fundo, do que é constituída a organização do espaço escolar, como ela se institucionaliza no ambiente escolar, podemos ver que o currículo é multifacetário, e no momento que atribuímos esta característica à ele, podemos pensar sim o porque que a educação  é constituída de tal forma.

É a organização curricular que vai estabelecer o que vai ser discutido ou trabalhado em aula. Notamos desta forma que as ideologias, a relação de poder e a forma de expor o conhecimento, são características que as pessoas no geral não atribuem à ideia de currículo. O entendimento que se tem sobre o assunto é grandioso e vasto, porém a ideia de currículo ainda se vê muito atrelada à uma ordem de dados que devem ser expostos de tal forma, senão a reprodução do entendimento e do conhecimento não se dá. Podemos pensar no currículo onde o poder é tido como parte integrante do processo educacional. Em todos os tempos ou espaços destinados ao ensino podemos notar na educação e concepção de mundo a cultura da classe dominante sobrepondo-se a cultura e à educação dos indivíduos submetidos ao meio escolar. Desta forma o currículo apresenta-se como uma maquina ideológica e ao mesmo tempo um separador de pessoas.

A teoria leva em consideração as ideologias anteriores contidas na teoria critica. Para tanto é preciso entender que não se trata de uma sobreposição de ideias, mas sim de uma organização que consegue utilizar, aprimorar e criar novos propósitos para se discutir o que é o currículo. Podemos ver que perante esta teoria o currículo ainda está em constante movimento, e é neste movimento que estamos inseridos como educadores e é assim que devemos nos enxergar enquanto parte atuante da formação dos nossos alunos. É elementar o fato de que o currículo, segundo Tomaz Tadeu, transmite ideias, é um aparelho ideológico, transmite a ideologia dominante e por consequência é um território político.

Concluo afirmando que como o currículo faz parte da formação do individuo para a sociedade, de certa forma, torna-se indispensável considerá-lo uma organização em constante movimento, pois a sociedade tem esta mesma configuração. Esta organização de conteúdos deve ser pensada para um indivíduo aluno. Mesmo com a relação entre saber-poder, temos que ter consciência sobre o nosso papel em sala de aula, e entender que o nosso ele vai muito além de meros reprodutores de um currículo já organizado para formar os nossos alunos. Só assim o currículo, a meu ver poderá ser, como diria Tomaz Tadeu:

“lugar, espaço, território”

“a relação de poder”

“Autobiografia, nossa vida, curriculum vitae: no currículo que forma a nossa identidade”

“Texto, discurso, documento”

DOCUMENTO DE IDENTIDADE








segunda-feira, 7 de novembro de 2011

A ORGANIZAÇÃO DA ESCOLA BÁSICA E SEUS DESAFIOS FRENTE À DINÂMICA SOCIAL


INTRODUÇÃO

O estudo do mecanismo envolto na educação básica é necessário para que entendamos como pais alunos e funcionários estão incluídos (ou excluídos) do processo educacional. Podemos pensar que a educação possui tal característica por estar condicionada em um período histórico, ou ter por base outro ideário, ou ainda possuir políticas que não condigam com a real necessidade do povo na área educacional. Notamos que as explicações são muitas e poucas realmente conquistam sua finalidade, e o fazem por conseguirem levar em consideração aspectos importantes como o tamanho do Brasil, a cultura difundida no país, o pensamento do povo que mora em tal localidade e como se dá a relação econômica nas diferentes regiões. E é a partir delas que se poderia discutir o que é realmente educação. Sendo assim notamos que muitos teóricos encontram os problemas no aparato educacional, e as soluções no aparato econômico, refletindo na crescente preocupação com esta área especifica em detrimento a outra.

Parto do pressuposto que a educação não deveria estar disponível ao bel prazer da economia. Como afirmava Cezar Benjamin, é preciso que a educação seja fim e não meio de se adquirir uma boa condição econômica como muitos especialistas no assunto defendem. O que quero destacar neste momento, não é a subordinação (com vias a uma redução ao absurdo) da educação para a economia, mas sim o problema que isso gera para a construção do conhecimento, e em ultima analise a formação do sujeito aluno que como o próprio termo já infere, é aquele ser que se encontra sujeitado ¹, submetido a um modelo educacional. Isso pode se refletir na falta de interesses que os alunos têm em aprender pelo fato de eles estarem na escola em busca de um diploma para conseguirem arranjar um emprego. Bem mais que isso, podemos notar que a escolarização para a população brasileira e para vários períodos históricos servia para a formação da mão de obra. Digo mais, na maioria dos períodos históricos se vê isso. Pode ser notada que a especificação do trabalho vai estar ligada em última analise a educação, e assim sendo podemos supor que então a educação teria uma serventia pro mundo do trabalho (que é o ideário que tentamos fugir). Notamos que em última analise esta especificação educacional sendo regulada pela economia, vai gerar um grande retrocesso em termos educacionais, pois não está


 
sendo pensada uma educação que vise à formação de um ser, e sim de um sujeito que estará responsabilizado por um cargo e desempenhando a sua função tecnicista no mundo do trabalho.

Não afirmo que não deva existir formação para o trabalho, só que agora transformar o espaço escolar no lugar para se conseguir somente esta finalidade é muito complicado. Pode ser visto que no parágrafo segundo da lei de Diretrizes e bases da educação brasileira aparece:

§ 2º A educação escolar deverá vincular-se ao mundo do trabalho e à prática social.”

A lei e a prática diferem em demasia. Pouco se fala de ações que visem à prática social, mas sim, as que visam ao mundo do trabalho. Isso também se reflete no conteúdo que é passado, ou nas provas amostrais aplicadas pelo poder publico. Podemos ver que na maioria das provas, as matérias a serem analisadas são matemática e português, onde as áreas sócio-históricas não são avaliadas (no caso do SAEB, prova Brasil e Provinha Brasil). É como se fosse esquecida a formação do individuo. Alem disso, vimos maiores preocupações por parte das escolas com estas duas matérias, que com as outras áreas do conhecimento (isso se reflete na distribuição de períodos. Geralmente matemática e português têm em média de três a quatro períodos por semana, enquanto geografia, história ou até artes possuem em média de um a dois períodos, ou ainda, não são postas na grade curricular do aluno). Isso é um problema, pois aparenta que não é importante a formação social do aluno. É como se este ser não fosse inserido na sociedade, e simplesmente posto nela de tal forma que as responsabilidades incutidas na vida dele, valessem mais que o próprio pensar e agir neste meio.



COMO SE DÁ A ORGANIZAÇÃO DO ESPAÇO ESCOLAR

Com o contexto atual da educação brasileira, é de suma importância conhecer sua organização.  Podemos começar a analisar o que ocorre com os conselhos escolares, onde deveria ser um lugar de discussão sobre a organização de seu ambiente: um espaço de propostas e real participação da comunidade. O que ocorre muitas vezes é que este espaço existe a caráter esporádico (para aprovação da prestação de contas), ou como órgão escolar de fechada, para cumprimento de lei (outros casos nem há a preocupação de se montar o conselho escolar com medo da sanção quando do não cumprimento da lei), ao invés de ser configurado como espaço de debate efetivo sobre o cotidiano escolar. O problema é que a atual formação deste espaço na escola vem sendo muito prejudicada pelos ideários atuais de gestão escolar. Como vimos, no momento em que se passa a aceitar um modelo de gestão escolar gerencialista, estamos abrindo as portas para que este espaço, em última análise, seja prejudicado, pois uma vez aceito um sistema cuja organização se baseia na figura do diretor, onde o diálogo por vezes não é travado, havendo uma imposição de princípios e valores, deslegitima a ação da comunidade escolar frente às decisões que na escola permeiam.

 Desta forma podemos ver que a organização do espaço escolar deveria estar submetido as deliberações da comunidade escolar, ao invés de a comunidade escolar estar submetida às deliberações da gerência escolar. Outro exemplo clássico de má organização escolar são os PPP’s (projetos políticos pedagógicos), onde por vezes são os mesmos por muito tempo, não respeitando as características e demandas da população, ou até sendo utilizados por anos.

Outro aspecto relevante é a subdivisão da educação básica em educação infantil, ensino fundamental e ensino médio. Cada uma destas etapas possui suas peculiaridades. A educação infantil, corresponde à faixa etária dos zero aos cinco anos de idade. Na LDB o artigo 29 expõe que:

“A educação infantil, primeira etapa da educação básica, tem como finalidade o desenvolvimento integral da criança até cinco anos de idade, em seus aspectos físicos, psicológicos, intelectual e social, complementando a ação da família e da comunidade.”

 Desta forma a finalidade da creche é que esta seja o espaço onde estas crianças possam desenvolver sua autonomia, encontrem a sua identidade, conheçam o convívio que se dá entre seres humanos, sendo tudo isso de maneira lúdica, onde a criança produza e obtenha o conhecimento. O ensino fundamental, por sua vez, compreenderia as crianças dos seis aos catorze anos, onde já seriam trabalhadas as produções textuais, o desenvolvimento do raciocínio lógico-matemático, entre outras questões. Muitos especialistas afirmam que com o aumento de mais um ano no ensino fundamental, ao invés de se conseguir um ano a mais na escolarização do aluno, na verdade foi retirado um ano da educação infantil, e isso de certa forma, acarretaria na desvinculação do ensino lúdico precocemente, pois a criança nesta fase ainda precisaria deste artifício para aprender. Já o ensino médio seria o lugar onde o individuo desenvolveria as suas habilidades para se preparar efetivamente para a sociedade, onde a formação profissional e a orientação para este meio seriam tidos como assuntos fundamentais para a complementação individual.

Além desta divisão, podemos notar que existem as modalidades do ensino básico. A EJA (educação de jovens e adultos) tem por finalidade educar de maneira precisa, jovens e adultos que não tiveram acesso à educação no tempo escolar regular. A educação profissional, por sua vez, pode estar vinculada ou não ao ensino médio. É uma forma de capacitar para o mundo do trabalho. Há grande embate sobre a real formação dos indivíduos submetidos a este meio, tendo em vista que esta formação é considerada muito técnica, não primando para o desenvolvimento social e individual, mas sim a uma lógica de mercado.  Já a educação especial é um caso à parte, por perpassar todas as etapas da escolarização do indivíduo. Aquela pessoa que precisa de um acompanhamento especializado vai possuir um atendimento voltado as suas especificidades, cuja finalidade desta modalidade de ensino é integrar este ser que é tido como diferente, na sociedade, que em outras épocas o excluiria.


CONCLUSÃO

 Concluo afirmando que muito mais que boas ações devemos ter consciência daquilo que envolve a educação, pois poderíamos achar que estamos fazendo parte dela sendo que na verdade não são abertas as possibilidades pra isso. Em última análise é preciso que os pais participem da vida escolar de seus filhos. Se eles não possuem tempo, nada impede que eles olhem os cadernos de seus filhos aos finais de semana, e responsabilizam a estes com o seu dever de estudar. Quanto a órgãos máximos como o conselho escolar, devemos nos recordar que este faz parte de uma gestão que tem por cerne a democracia, e já como na constituição brasileira diz que a educação deve ser democrática, então o faremos. Mas antes de tudo, precisamos fazer com que as pessoas se sintam atuantes, e não sujeitadas a um processo educacional (que sejam SUJEITOS ² agentes), e ai sim poderemos mudar tal situação. Para tanto as pessoas precisam se informar e conhecer sobre o que está acontecendo na vida escolar de seus filhos, para poderem questionar e perceber, para depois mudar a situação educacional no Brasil.


¹ Entendendo o sujeito como sendo aquele sujeitado ao controle e dependência de outro, sendo esta uma das caracterizações que Focault utiliza para designar sujeito.
²Faço menção à segunda concepção de sujeito exposta por Focault.